sábado, 14 de julho de 2012

Amanhã é mais um domingo lá fora, dia de ir a praia ou de fazer aquela visita mais demorada, no entanto eu daria tudo por um dia incomum.
Um pulo no céu é a minha quimera, e com esse abraço sedento, essa voz embargada, dizer a pessoa que eu mais amei nesse mundo da minha saudade.
A partir da meia noite ela faz mais um aniversário, pela primeira vez passaremos distantes, e eu não consigo ter razão nessa dia, algo diferente dessa real vontade do céu.
Deus certamente não me concederá esse milagre dominical, pois sabe da necessidade de firmarmos um trato, e da grande chance de eu abrir mão de toda minha honestidade ao me ver diante da plenitude novamente.




domingo, 8 de abril de 2012

A minha maior saudade é a do brilho da estrela.
Só se via de lá, do alcance do céu.
Onde eu sentava e me iluminava.
Eu tão escuro, ela alvorada.
Por isso eu sei, eu não me acostumo.
A estrela se pôs, e seu nome diz d'alva.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Hoje é sexta feira, santa, dia de reconhecer o sacrifício como a maior prova de amor, e este não deve ser um momento de meros rituais sem sentido. Beijamos a cruz porque somos humanos, movidos por experiências, esquecemos tudo com facilidade, inclusive das maiores provas de amor que nos são dadas.

Não há o intuito de convencer ateus ou católicos não praticantes, muito menos de apresentar-me como um modelo de religiosidade, pois infelizmente ainda vos falo de cima de um muro. O fato é que não precisamos dos pronunciamentos definitivos da Ciência a respeito do Santo Sudário ou de quaisquer outras esperas da nossa razão para confessarmos que,em nós, algo precisa morrer ou renascer sempre em favor de algum ganho.

Eu prefiro não arriscar por caminhos desconhecidos, eu escolho o da morte e ressurreição para salvar-me todos os dias.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Lembro das aulas sobre o romatismo e a pneumonia como o mal do século. Eu me sentia totalmente seguro em relação a minha época, afinal em meio a tanto desenvolvimento o único "mal" que poderia assolar os românticos de hoje seria o de sofrer por amor.

Agora estamos aí, nos deparando todos os dias, de uma forma quase descontrolada, com algo que não está batendo mais só a porta do vizinho. É o prejuízo chamado "Câncer", ninguém sabe de onde vem, muito menos tem a certeza de como vai.

Acredito que essa frase foi dita por um médico, não sei ao certo, o que sei é que uma vez ouvi em um desses documentários da tv, que "todos temos um câncer dormindo em nós.". Onde estamos errando tanto ao ponto de despertar tanto sofrimento? Eu não tenho respostas, mas estou a mercê de Deus, e isso me conforta.

Em meio a tantas incertezas e perigos que rondam a vida de hoje, prefiro pensá-lo como a concretização do sofrimento de Lewis, o megafone de Deus para o mundo.

"O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde."

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Há quem diga que eu tenho a obrigação de me conformar com sua partida, em ser consolado pela quantidade de dezenas vividas. São pessoas inconvincentes, as quais nunca foram carregadas por seus braços de sustento tão sinuoso e cansado, que não aprenderam, com você, a não ser desse mundo, tampouco a lição de que não há contradição maior do que a de não te ter mais aqui.
Só nós sabemos o vazio de não mais poder ajeitar-te na cama, de cobrir os seus braços, e de ouvir que daquele jeito estava melhor, de não poder mais saciar a sua sede, e a nossa do que é verdadeiro; só nós sabemos o quão será difícil trancar a porta de sua casa, ter o lado escuro e sem o ar de suas plantas, a ausência do cheiro de flor que sua cabeça exalava, das refeições e das ligações preocupadas, das declarações de amor e do seu cantinho perto da porta; só nós sabemos o quão difícil também se torna explicar seu amor e o tamanho de sua provável felicidade em voltar ao começo, em tornar a cuidar de nós, agora em um mundo sem dor.

sábado, 29 de outubro de 2011

Vou ticontar...

Hoje eu presenteei o melhor amigo do meu pai com uma bicicleta...
Devo a esse amigo boa parte do que aprendi em relação à amizade nesse ano que finda. O ato de despojo foi uma forma de reconhecer, por meu pai, a companhia fiel, mas também foi um gesto revestido de uma lição, a qual se fez, na sua essência, uma mendicante a entoar minha vontade de ser melhor.
O início dessa amizade aliado à falta de noção de meu pai não desciam mais do que meio milímetro abaixo das amídalas. Naquela época eu parecia ter a razão de sentir tal intolerância, acobertada pelas madrugadas de sextas feiras, que eram sempre alvoroçadas pela voz atroadora desse estranho amigo, a trazer o carrego da feira e as longas gargalhadas de meu pai.
Aquilo, pra mim, não passava de um episódio típico de gente que não era boa da cabeça. Mas daquela possibilidade, hoje vinga apenas a verdade das gargalhadas e o novo incômodo causado por minha inteligência, que é de bem menor qualidade, diga-se de passagem, ao compará-la a daquele pobre e louco amigo.
Ele atende pelo nome de Tico. No momento em que lhe entreguei a bicicleta, o seu rosto não esboçava nada mais do que a simplicidade de quem não foi preparado para agradecer. Eu percebi nele a necessidade de querer fugir daquela situação, que parecia ensaiar uma troca, ou talvez um consolo pelo falecimento do corpo amigo.
Aquela espontaneidade recordou- me algumas cenas protagonizadas pelos dois, as quais retratavam muito bem esse estranho e bonito laço amical...
A primeira lembrança entrevia o dia em que estávamos fazendo minha mudança de volta, de Salvador para Aracaju. Uma semana antes, presenciei painho falando com Tico pelo telefone, pedindo pra que ele nos ajudasse na retirada dos móveis assim que chegássemos a nossa casa.
Passados sete dias, na viagem de volta, já saindo da linha verde, painho impaciente, lamentava por não ter conseguido contato com o seu amigo durante toda a semana e muito menos naquele momento. Pedi a ele que desencanasse, já que na minha cabeça, de uma forma escondida, se passava a idéia de que era inadmissível fazer trato com doido.
Foi como uma bofetada na minha cara ao principiar a rua onde moro. Tico estava encostado ao portão há duas horas, o tempo exato do nosso atraso, conversando alto e sozinho, enquanto escutava o jogo do Vasco da Gama em um rádio vermelho. Posteriormente, só o notei novamente no fim, junto a minha ausência de suor pelo corpo e o último alfinete acomodado no lar, depois de ter percebido que ele tivera assumido os maiores pesos da retirada.
A segunda lembrança me remeteu a outro dia, em que o meu pai tentava consertar algo no banheiro de casa mas não conseguia. Ele tratava aquele feito como um prodígio, uma vez que se apresentava tão complicado de se resolver, daqueles típicos imbróglios que a gente senta e lamenta: “Só se eu tivesse três braços!”. Já tomado pelo fracasso, resolveu ligar mais uma vez para o seu amigo fiel.
Meia hora depois, acredite, Tico chegou com dezenas de metros de um fio todo engenhoso, provocando uma admiração que eu nunca tinha visto sair do rosto meu pai. Tenho certeza que, pra meu velho, foi como se seu amigo tivesse aberto o mar vermelho pra ele passar.
Remato com a noite de cinco de agosto. Velávamos o corpo de meu pai quando rapidamente avistamos Tico paralisado em frente ao caixão, calado, permanecendo assim por alguns minutos. Alguém que o acompanhava, meio apressado, começou a lhe alertar que já era hora de voltar pra casa. No mesmo momento ele soltou a sua primeira e única frase daquele encontro, sorrindo: “Amigão, a gente vai conversar muito ainda!”. Olhei ao redor e todo o salão se emocionava.
Eu também me comovi, mas enquanto eu só me impressiono, os médicos vão atestando a sanidade da minha mente, que insiste em enfermar meu coração pela privação da eternidade.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Um provérbio, um salmo, um amigo, um lugar.
Nada ameniza essa dor.
É o silêncio da sua voz que nos acompanha.
Por que é que tem que ser assim?
Diga-nos, uma vez que o senhor agora está no lugar onde as respostas se escondem.
Quanto vale seu adeus?
Qual o preço da nossa dor?
Por favor, nos diga!
Daríamos tudo por uma nova chance.
Mas só temos a dureza da vida em mãos.
Ela nos obriga a seguir sem você.
Ensina-nos a não mais te esperar.
A nossa única certeza é a de que o senhor não voltará mais como antes.
Diga-nos! Quem nos dará segurança na hora do medo?
Mas não responda agora, não olhe por ora a nossa angústia.
Vá tranquilo e sem sofrimento como desde o começo.
E antes que eu esqueça, encontramos seus gestos.
Estavam lá, escondidos, trancados nas prateleiras do armário.
Com o poder de curar nossas enfermidades, nossas cegueiras.
Percebemo-nos enfim, e só o senhor foi capaz de nos guardar como um troféu intocável,
como o amor mais calado e perfeito, que nunca precisou de holofotes pra justificar essa dor.
Ela há de se acomodar, tomar a forma das marcas, sem fazer-te partir.
E tudo não passará de um engano quando perto estiver novamente.